Não é divertido ser líder em uma crise financeira. É preciso ser audacioso mas apaziguador, gastar com liberdade mas também com disciplina. É necessário eliminar o problema no curto prazo sem assustar todo mundo e sem deixar uma bagunça de longo prazo.
Na minha opinião, os pacotes de incentivos no Capitólio não conseguem esse equilíbrio. São amplos mas negligentes em certos aspectos, lentos demais para fazer uma rápida diferença, e longos demais para evitar danos fiscais.
Porém outra parte da estratégia econômica do governo foi revelada ontem pelo secretário do Tesouro, Tim Geithner, e à primeira vista, as notícias são muito mais otimistas. O plano de Geithner é grande mas também disciplinado. Foi elaborado por alguém ciente das limitações do governo.
Geithner trabalha com a deterioração financeira há algum tempo. A lição básica que aprendeu é que o governo federal tem sido muito cerceado. Ocasionalmente os legisladores calcavam o pé no acelerador e ajudavam um banco, mas a seguir freavam, preocupados com problemas morais ou com a inflação.
É hora de calcar no acelerador, diz Geithner. \”A situação vai contra os instintos básicos de todo mundo que , compreensivelmente, se preocupa em usar de modo cuidadoso o dinheiro do contribuinte, teme problemas morais e de credibilidade no longo prazo. Mas se não agirmos agora, o mercado saberá que será preciso fazê-lo mais tarde.\”
Alguns economistas dão a impressão de que o setor bancário é um cadáver em putrefação, tristemente corroído por ativos tóxicos sem valor. Geithner tem outro ponto de vista. Concorda que muitos banqueiros tiveram atitudes \”repreensíveis e muito preocupantes\”. Mas a grande incerteza não repousa dentro dos bancos, e sim no cenário econômico maior.
\”As pessoas estão extremamente inseguras quanto à profundidade da recessão\”, diz Geithner. \”Estão muito incertas\” a respeito do desempenho de seus ativos nesse cenário. Mas isso não é como as crises dos anos 80 e 90, ou como na Suécia, onde os próprios bancos estavam mortos, explicou, acrescentando que tentamos consertar \”um sistema em grande parte vivo e que sobreviverá, mas que ainda carrega o fardo do insucesso sistêmico de mercado, de uma incerteza sistêmica.\”
Portanto, argumenta Geithner, o governo não precisa partir para a nacionalização dos bancos. \”É muito importante que não se dê a impressão de querer assumir ou gerenciar os bancos. Os governos são péssimos gestores de ativos podres. Não existem histórias positivas sobre governos que tivessem atuado bem nesse sentido.\”
E os governos também não precisam cortar a cabeça de todos os CEOs. Geithner já impôs mudanças gerenciais no passado e diz que fará de novo, mas claramente se opõe aos que desejam um reinado de terror.
A chave, diz ele, é criar \”uma política macroeconômica maciça, sustentável e significativa\” que injete capital nos mercados para fazê-los funcionar de novo.
O cerne de seu programa repousa em uma série de fundos de investimento públicos-privados com nomes como Legacy Asset Partnership Bank e Consumer and Business Lending Initiative. Um irá adquirir ativos tóxicos. O outro irá estimular o empréstimo para o consumidor e o pequeno empresário. \”Existe muito capital privado querendo participar. Só não consegue obter financiamento\”, insiste Geithner.
Os novos programas irão encorajar os investidores privados, e quando os mercados descongelarem, \”sairão o mais depressa possível.\”
Existem rumores sobre estabelecer um programa de seguro com o governo garantindo um preço menor sobre os ativos tóxicos. Mas Geithner não acha que isso dará certo. \”Se formos fixar um preço sobre uma garantia ou uma compra, haverá o mesmo problema básico: a ausência de um preço de mercado\”, explicou. É melhor criar um mercado onde preços possam ser fixados normalmente e não por decreto. Iríamos acabar tendo um programa grande porém conciliador para os mercados – mais uma parceria do que um confronto.
O segundo ponto de equilíbrio que Geithner alcançou diz respeito à política . O clima no Congresso é de irritação. Os membros estão desgostos com a quantidade de dinheiro do TARP que foi desperdiçada.
Para recuperar o bom nome o programa de Geithner foi elaborado para ser razoavelmente simples e transparente. \”Estava muito preocupado para que não parecêssemos vulneráveis frente à despesa que estamos pagando por um preço exagerado como uma maneira de fornecer subsídio disfarçados para os bancos.\” Além disso, conforme Geithner explica, \”o princípio básico e simples é que a assistência pública é um privilegio e não um direito, e os banqueiros precisam entender que não é para eles.\”
Quanto aos custos eventuais, serão postergados. \”Na verdade não sabemos quanto mais será preciso\”, admite. Mas o Departamento do Tesouro pode gerar credibilidade, e então será mais fácil defender as centenas de bilhões mais tarde.
A política total ainda está para ser divulgada, Mas as pessoas ficam com a impressão que está sendo elaborada para se enquadrar à crise, e que não se trata de uma agenda pré-fabricada. Geithner propõe uma gigantesca intervenção, mas pelo menos ele parece estar agindo contra seus instintos naturais. Se precisamos ter um czar das finanças, que pelo menos esse czar não goste do papel que assumiu…