Na primeira reunião do ano, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) mostrou conservadorismo e diminuiu a magnitude dos cortes, reduzindo a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. Deste modo, o juro brasileiro cai para 13% ao ano, o menor da história. A redução mais ampla dos juros foi cobrada publicamente ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na cerimônia de lançamento do PAC. Logo depois, Mantega apressou-se em desmentir o fato.
Não foi mera brincadeira, no entanto, a cobrança a Meirelles para que ele continue reduzindo a taxa básica de juros. Para Mantega e seus técnicos, a decisão de ontem do Copom era fundamental para que o setor privado mostre disposição de ampliar seus investimentos e ajude a cumprir o objetivo central do PAC.
A Selic regula o custo dos empréstimos, tanto para empresas quanto para consumidores. Se a taxa é menor, há uma tendência de mais gastos e de fazer a economia se movimentar mais, com reflexos positivos na produção, no emprego e no crescimento do País.
A poda foi consoante com as expectativas de alguns analistas e do próprio BC. No relatório Focus desta semana, o BC previu a redução de 0,25 ponto. Para o final de 2007, o documento projeta a taxa em 11,50%.
Elson Teles, economista-chefe da corretora Concórdia, salienta que a taxa básica de juros caiu pela décima terceira vez consecutiva, totalizando 6,75 pontos desde o início do processo de desaperto monetário, iniciado em 2005.
Teles crê que o Copom baseou-se no fato de que o diagnóstico de piora do balanço de riscos para a inflação, principalmente daqueles associados ao cenário interno, tem se confirmado através da análise dos últimos indicadores. \”De fato, os dados mensais recentes de comércio varejista e de produção industrial sugerem uma intensificação da atividade econômica nos últimos meses, o que pode ocasionar perigo inflacionário\”, afirma Teles.
A economista Cassiana Fernandez, da Mauá Investimentos, disse que uma redução menor era esperada. \”A pressão de inflação é temporária, mas já não contribui para a continuação do ritmo de corte. O BC já vinha sinalizando essa redução de ritmo há três meses e a última reunião foi dividida\”, diz Cassiana. A expectativa dela é de sete cortes de 0,25 ponto para este ano, o que levaria a taxa para 11,5% ao ano no final de 2007.
O presidente do banco Paulista, Álvaro Vidigal, explica que o puxão de orelhas dado por Mantega acabou por politizar o trabalho do Copom, tido como técnico. \”O ministro avançou o sinal ao fazer a cobrança ao BC, que já é conservador e tem demonstrado isto\”, lamenta. Analisando friamente, entretanto, Vidigal pondera que a decisão é boa para o PAC, que prevê um gasto adicional para promover a redução do déficit primário de 4,25% para 3,75%.
Contudo, o economista-chefe da Infinity Asset, André Ng, lamenta a decisão. \”Tirando um pouco da pressão política advinda do PAC e das declarações do Mantega, a queda nos preços internacionais dos combustíveis e o câmbio estável permitiam queimar um pouco mais de gordura na taxa\”, avalia André Ng.
Autor: Cristiano Vieira
Fonte e Publicação: Jornal do Comércio – http://jcrs.uol.com.br
Data: 25/01/2007