Depois da decisão de reduzir a taxa básica de juros em agosto, o Banco Central previu menor crescimento da economia brasileira e inflação mais alta em 2011. No Relatório de Inflação do terceiro trimestre, divulgado nesta quinta-feira, o BC reduziu de 4% para 3,5% a projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano.
A mudança nas estimativas, segundo o BC, foi motivado pelas “ações de política implementadas desde o fim do ano passado e, principalmente, pela deterioração do cenário internacional, que tem levado a reduções generalizadas e de grande magnitude nas projeções de crescimento para os principais blocos econômicos”.
Já a estimativa de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 aumentou de 5,8% para 6,4%, no chamado cenário de referência utilizado pelo BC. Para 2012, o BC reviu a sua estimativa de inflação de 4,8% para 4,7%, no mesmo cenário.
Dessa forma, pelos cálculos a autoridade monetária, o IPCA ainda não irá convergir para o centro da meta de inflação, de 4,5%, no ano que vem. O presidente do BC, Alexandre Tombini, disse no início dessa semana que essa convergência era possível. Pelos dados do BC, a inflação só chegará ao centro meta no segundo trimestre de 2013.
A possibilidade de convergência da inflação para o centro da meta começou a ser bastante questionada pelos analistas do mercado financeiro depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu, no fim de agosto, a taxa Selic de 12,5% para 12%, dando início ao processo de flexibilização da política monetária.
No novo cenário do BC, o IPCA acumulado em 12 meses vai fechar o terceiro trimestre deste ano em 7,2%, caindo para 6,4% ao final do ano. Pelas projeções, o IPCA recuará para 5,7% no primeiro trimestre de 2012, caindo para 5,2% no trimestre seguinte; 4,7% no terceiro trimestre de 2012, fechando o ano que vem em 4,7%. Em 2013, o IPCA em 12 meses permanecerá em 4,7% no primeiro trimestre, caindo para 4,5% no segundo trimestre e mantendo-se em 4,5% no trimestre seguinte.
A estimativa do BC é mais otimista do que as previsões do mercado. A última pesquisa Focus do BC, que coleta estimativas de instituições financeiras e consultorias, projeta que o IPCA fechará 2011 em 6,52% e 5,52% em 2012.
De acordo com o BC, a probabilidade de a inflação estimada ultrapassar o teto da meta (de 6,5%) em 2011 subiu de 22% para 45%, no cenário de referência. Já no cenário de mercado, a chance de o IPCA superar o teto da meta neste ano avançou de 18% para 44%. Para 2012, essa probabilidade caiu de 14% para 12%, no cenário de referência.
O cenário de referência leva em consideração juros constantes de 12% e taxa de câmbio de R$ 1,65.
Em Curitiba, onde participou do 22º Congresso Nacional de Executivos de Finanças, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a inflação vai convergir para o centro da meta em 2012 (4,5%). “A inflação está chegando no pico no fim do terceiro trimestre e cairá para 5,3% em abril/maio de 2012. Isto está encomendado. Trabalhamos com a inflação no centro da meta em 2012”, disse. A afirmação foi feita minutos depois da divulgação do Relatório Trimestral de Inflação pelo BC, em Brasília.
Segundo Tombini, desde maio a inflação vem demonstrando queda e padrões “mais em linha com objetivos do BC”, pois estaria num patamar de 4,10%, em termos anualizados. “A economia do Brasil está moderando, nós estamos fazendo o dever de casa”, disse.
Alta nas liberações de crédito ainda é considerada moderada
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, disse que a instituição pode agir no mercado de crédito se avaliar necessário. “Se for necessário, se a gente identificar algum segmento do mercado de crédito que cresce acima do considerado razoável do ponto de vista da sustentabilidade do sistema, vamos agir”, disse ele, durante entrevista sobre o Relatório Trimestral de Inflação.
Segundo ele, já houve moderação no crédito nos últimos meses. O diretor argumenta que o mercado previa, no início do ano, crescer próximo de 30%. “Hoje, porém, as instituições reconhecem que suas carteiras vão se expandir 15% ou 17% e até 13%. Acho que isso mostra que, de fato, o mercado tem moderado”.
Para Hamilton, essa moderação acontece especialmente graças às medidas adotadas pela equipe econômica no fim do ano passado, como medidas macroprudenciais e o aperto monetário realizado no primeiro semestre.
Carlos Hamilton avaliou que houve uma melhora da percepção do mercado financeiro em relação à política fiscal em 2011. “Parece que o ceticismo desapareceu”, disse ele, numa referência às desconfianças do mercado em relação à capacidade do governo de implementar o corte de gastos anunciado no início do ano.
Ele destacou que a ação de política monetária teve três frentes no início do ano. As primeiras delas foram as medidas para a contenção do crédito, que segundo o diretor se mostraram eficazes. A segunda frente foi o aumento da Selic (taxa básica de juros). A terceira frente foi justamente o reforço da política fiscal para a contenção da expansão do gasto público.
Hamilton lembrou que, no primeiro momento, alguns analistas acreditavam que o governo não faria essa redução dos gastos. Questionado, ele negou que o BC tenha perdida o “timing” para aumentar os juros.
Risco de inflação ligada ao aumento dos salários preocupa
O Banco Central está atento às negociações entre trabalhadores e empresas, especialmente às categorias que têm conseguido aumentos expressivos de salário. No Relatório Trimestral de Inflação, os diretores da instituição dizem que “um risco importante para a dinâmica dos preços ao consumidor advém da dinâmica dos salários”. O risco, cita o BC, está nas negociações que embutem a elevada inflação dos últimos 12 meses.
“De fato, há concentração de negociações salariais importantes neste segundo semestre, quando a inflação acumulada em 12 meses se encontra bastante elevada. Nesse contexto, o risco para a dinâmica dos preços reside na possibilidade de as negociações salariais atribuírem um peso excessivo à inflação passada”, cita o documento, ao comentar que salários maiores podem aumentar a demanda e, consequentemente, a inflação.
Nesse trecho do texto, os diretores do BC chamam a atenção para o fato de que as negociações usam como referência a inflação anterior, “em detrimento da inflação futura, a qual, cabe notar, tende a recuar a partir do quarto trimestre e a ser marcadamente menor do que a inflação passada”.
Outro ponto que chama atenção do BC é o salário-mínimo. No texto, os diretores afirmam que “os aumentos previstos para o salário mínimo nos próximos anos podem impactar direta ou indiretamente a dinâmica de outros salários e dos preços ao consumidor”.
Autoridade monetária reitera que pode atuar no câmbio
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reiterou nesta quinta-feira que, caso seja necessário, a autoridade monetária fará novas intervenções no mercado de câmbio para preservar o seu desempenho em níveis normais. “Já comunicamos que o BC entrará nos mercados, quando necessário, para assegurar sua boa funcionalidade”, disse ele, na abertura do 22º Congresso Nacional de Executivos de Finanças, em Curitiba.
Tombini destacou que as reservas internacionais subiram US$ 147 bilhões desde agosto de 2008, quando o País tinha US$ 205 bilhões, para US$ 352 bilhões, registrados em setembro de 2011. Contudo, esta poupança externa estava em US$ 350,5 bilhões no dia 27 deste mês.
O presidente do BC destacou que as contas externas da economia brasileira apresentam uma condição robusta, pois cerca de 60% dos recursos que ingressam no País estão na categoria de investimentos de longo prazo, entre os quais destacam-se os realizados por empresas para a construção ou ampliação de unidades fabris. “Temos boa disposição de investimentos diretos, que são mais estáveis quando ocorrem reversões”, comentou, referindo-se a crises internacionais.