Os congressistas americanos criticaram fortemente o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), nesta quinta-feira, por falhar em partilhar informações sobre o socorro do governo concedido à seguradora American International Group (AIG), dizendo que a companhia é uma “causa perdida” e alertaram que recursos para socorros futuros podem depender da cooperação do banco central.
“Vocês vão receber o maior ‘não’ que jamais tiveram. Eu farei qualquer coisa possível para parar vocês de desperdiçarem o dinheiro dos contribuintes em uma causa perdida”, disse o senador republicano Jim Bunning em uma audiência no Comitê de Bancos do Senado.
Os comentários de Bunning vieram depois de um caloroso debate entre os membros do comitê e o vice-presidente do Fed, Donald Kohn. Apesar dos repetidos pedidos dos senadores para o Fed revelar as contrapartes que se beneficiaram do socorro do governo à AIG, Kohn disse que o Fed não vai partilhar a informação.
“Minha opinião seria que dar os nomes arruinaria a estabilidade da companhia”, disse Kohn. Essa resposta não caiu bem entre os senadores, especialmente porque Kohn reconheceu a necessidade de maior transparência sobre as ações do Fed e do Departamento do Tesouro para salvar a debilitada companhia.
“A confiança pública no que estamos fazendo está em risco, é o dinheiro deles que está sendo colocado naquelas instituições”, disse o presidente do comitê, o democrata Christopher Dodd, para Kohn. “Aquele tipo de resposta arruína isso de forma muito significativa”, acrescentou. Após a audiência, Dodd disse que ele e outros congressistas provavelmente vão obter à força a informação do Fed. “Se tivermos que ir por aquele caminho, veremos”, disse o senador.
O senador republicano Richard Shelby classificou a resposta de Kohn “muito perturbadora” e alertou que o Fed e o Tesouro podem negar a informação ao Congresso apenas por algum tempo. “As pessoas querem saber o que estamos fazendo com este dinheiro. Quem se beneficiou com isto? Muitas pessoas não sentem que o povo americano foi beneficiado”, disse Shelby.
Kohn disse que partilhar os nomes das contrapartes da AIG criaria incerteza nos mercados financeiros ao arruinar os acordos de confidencialidade que estão incluídos nos contratos de derivativos e de credit-default swap (CDS). Além disso, ele repetiu o argumento oferecido pelo Tesouro e o Fed de que o governo não poderia deixar a AIG falir.
O vice-presidente do Fed disse que a divisão de Produtos da AIG, fonte de muitos dos problemas da companhia, ainda tem um “volume nocional muito grande” de contratos derivativos que tocam uma variedade de contrapartes através do sistema financeiro. Por essa razão, Kohn disse que o Fed não teve escolha se quisesse manter sua responsabilidade de proteger a estabilidade financeira.
Contudo, Kohn reconheceu que ao tornar as contrapartes da AIG um conjunto o Fed tinha criado um “risco moral” e que, ao fortalecer a AIG, o banco central tinha “expandido os limites” de sua autoridade para emprestar para tomadores de empréstimo com “qualidade de crédito”.
A decisão do Fed e do Tesouro de revisar novamente o socorro à AIG para injetar US$ 30 bilhões a mais de capital, de gerou um forte desconforto no Congresso. Como expressou Dodd, existe uma crescente preocupação de que a AIG está sendo reforçada para proteger as contrapartes de bilhões de dólares de CDS e derivativos, onde os investidores deveriam esperar assumir algumas perdas. “Não está claro quem estamos socorrendo – se é o que quer que reste da AIG ou seus parceiros”, disse Dodd.