A Fitch Ratings rebaixou ontem os ratings dos quatro maiores bancos da Grécia, afirmando que o aperto fiscal do governo terá “um efeito significativo na economia real”. A agência cortou um grau nos ratings de longo prazo do National Bank of Greece, Alpha Bank, EFG Eurobank Ergasias e Piraeus Bank para BBB, classificação que está dois graus acima de junk.
A Fitch afirmou que a qualidade dos ativos e a lucratividade dos bancos, que já estavam enfraquecendo, “ficarão sob uma pressão maior” por causa do ajuste fiscal que “precisa ser feito” pelo governo grego. Estes ajustes vão afetar a demanda por crédito e colocar pressão adicional sobre a qualidade dos ativos, o que pode resultar em custos de crédito mais elevados e reduzir a lucratividade das instituições, acrescentou a Fitch.
Também ontem, o governo da Grécia, que assumiu o poder em outubro do ano passado, acusou a Comissão Europeia de fechar os olhos para os crescentes problemas de dívida existentes durante a administração anterior do país. “A Comissão Europeia tinha o dever de saber, de fazer checagens, e eu tenho certeza de que eles conheciam as estatísticas”, afirmou o porta-voz do governo, George Petalotis, à rádio Kanali 1.
A União Europeia abriu um inquérito sobre a contabilidade grega depois que o novo governo estimou no fim do ano passado que o déficit orçamentário em 2009 foi de 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país o maior da zona do euro (grupo dos 16 países que adotam o euro como moeda) e muito acima das estimativas anteriores.
GREVE. Hoje, os trabalhadores gregos estão convocados para uma greve geral de 24 horas com a qual pretendem paralisar a vida do país, em protesto contra as medidas anunciadas pelo governo para fazer frente à grave crise econômica. Colégios, hospitais, repartições públicas, postos de alfândega e companhias privadas não funcionarão. Jornalistas e profissionais da área técnica da televisão se juntaram ao chamado, o que se traduzirá em um blecaute informativo de 24 horas.
No total, 400 voos, incluídos os internacionais, foram cancelados devido à participação dos controladores aéreos na greve. A partir da meia-noite de hoje (hora local), o espaço aéreo permanecerá aberto apenas para voos de emergência. Também ficarão suspensas as viagens marítimas para as ilhas gregas e para a Itália. Além disso, não funcionarão os trens de longa distância e urbanos, assim como o metrô e os bondes. O restante do transporte público fará diversas interrupções durante o dia.
A greve foi convocada pela Confederação Geral de Trabalhadores da Grécia (GSEE) em resposta ao plano do Executivo de cortar em 10% os gastos públicos para este ano, congelando os salários e aumentando a idade de aposentadoria.
CALOTES. A crescente preocupação com a situação de países como Grécia, Espanha e Portugal pode, em breve, se estender a economias maiores. Ontem, o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kenneth Rogoff, previu uma série de calotes soberanos e que países como a Alemanha, os Estados Unidos e talvez o Japão, terão de realizar cortes em seus gastos quando possivelmente os mercados financeiros começarem a exigir juros maiores. Rogoff disse também que a política fiscal no Japão está “fora de controle”.
Durante um fórum realizado em Tóquio, Rogoff advertiu que após uma crise financeira de 2008 e 2009, “normalmente ocorrem vários calotes soberanos, digamos em poucos anos. Acredito que veremos isso novamente”. Rogoff acrescentou que esse momento é muito difícil de prever, mas que “irá acontecer”.
Segundo Rogoff, os mercados financeiros irão eventualmente direcionar as taxas de juro em alta e países europeus, como a Grécia e Portugal, “terão muitos problemas”. “Nos países ricos Alemanha, Estados Unidos e talvez Japão veremos crescimento lento. Eles terão de apertar o cinto, quando atingidos pelo problema da alta taxa de juro”.