A Grã-Bretanha defendeu ontem a integração \”o mais rápido possível\” do Brasil, China, Índia e Rússia no estratégico Fórum de Estabilidade Financeira (FEF), grupo das principais autoridades financeiras que avalia riscos de bancos e dos mercados. O ministro britânico de Finanças, Alistair Darling, disse que a entrada das quatro grandes economias no FEF poderá ocorrer \”nas próximas semanas\” e que maior cooperação é necessária para restabelecer a credibilidade do sistema bancário.
As declarações de Alistair a quatro jornais europeus tiveram grande repercussão ontem na Europa, na véspera do encontro de ministros de finanças do G-7 nesta sexta-feira e sábado, em Roma, para discutir a crise global.
Se confirmada, a ampliação em breve do FEF representará a primeira vitória brasileira para ter influência nos órgãos decisórios na área financeira, ajudando a empurrar pela reforma também no Fundo Monetário Internacional (FMI). Essa é uma das bandeiras do governo brasileiro para a cúpula de chefes de Estado e de governo do G-20, marcada para o começo de abril, em Londres.
O Fórum de Estabilidade Financeira é pouco conhecido, mas sua importância só cresce com a dramática crise financeira global. Foi criado em 1999 pelos países industrializados para coordenar a cooperação internacional no controle dos mercados financeiros. É composto atualmente pelos países do G-7 (Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Grã-Bretanha, Itália e Canadá) e pela Holanda, Suíça, Austrália, Cingapura e Hong Kong.
Agora, com a crise impondo a necessidade de mais regulação dos mercados, o FEF deve passar de um pequeno secretariado com reguladores e supervisores para uma instituição mais global, sediada no Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco dos bancos centrais, na Basiléia (Suíça).
Continua em debate o novo papel do FEF, sobre supervisão transfronteira dos bancos. Alguns pontos em discussão são um melhor controle das negociações de derivativos, ser mais vigilante sobre paraísos fiscais ou ainda sobre o papel das agências de classificação de risco de crédito.
Os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 defenderam em São Paulo, em novembro, a ampliação do FEF aos principais emergentes, como resposta \”ao desafio apresentado pela situação financeira global e o reconhecimento da natureza global dos mercados financeiros\”. No entanto, nos bastidores a briga tem sido feroz, com a resistência de quem já está dentro do grupo para deixar emergentes entrarem e ver diluída sua parte de poder na regulamentação do mercado financeiro internacional. A Holanda e a Suíça sabem que a ampliação do FEF será apenas o começo, e suas fatias de poder no FMI terminarão por ser também diminuídas para reforçar os principais emergentes.
O ministro inglês conclamou por mais cooperação internacionais, mas rejeitou a idéia de um regulador global. De fato, a Grã-Bretanha, que vai organizar o G-20, quer frear o exagero na regulação. Exclui mesmo um regulador financeiro único europeu.
A ideia, segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, é mais de um \”colégio de reguladores\” do sistema financeiro. Alistair deu a mesma pista, ilustrando com o caso do UBS, com interesses na Suíça, EUA e outros países europeus, e que precisa de uma visão de conjunto das regras a que deve ser submeter.
Alistair advertiu que o G-20 de Londres não resultará em medidas espetaculares. Os chefes de Estado e de governo deverão concordar sobretudo em declarações \”de princípio\” sobre regulamentação financeira, comércio e área fiscal. Mas o ministro ressalvou: \”A reunião de 2 de abril não é um ponto final, é um processo. E estamos longe de ter saído (da crise)\”.
De fato, um dos problemas na preparação do G-20 de Londres é a ausência dos Estados Unidos, justamente a maior potência. A Casa Branca não indicou ainda nem o \”sherpa\”, o representante pessoal do presidente Barack Obama e que tem papel decisivo na preparação das decisões.